Pensou que para chegar lá, Isabel deveria seguir o que dizia as linhas daquela sessão. Todo dia pela manhã, pegava o jornal e ia direto para seu signo, Aquário. Era só ler com atenção, aguardar uma brecha, uma virgula, uma reticência. Ao encontrar qualquer sinal, bateria a porta do Causos e Acasos e tentaria uma vaga.
Depois de 2 meses, já meio descrente, pegou o jornal e leu a seguinte prece: “Hoje os peixes não estão para o mar, estão para aquário.” A primeira vez que leu, não entendeu direito se era uma mensagem para piscianos ou aquarianos. Será que era uma mensagem para os piscianos pensarem um pouco menor? Ou será que era a oportunidade dos aquarianos venderem o seu peixe?
Leu mais umas 15 vezes, até entender o que queria. Era de fato a hora de ir até o jornal e pescar essa oportunidade.
Isabel bateu na porta, arrumou uma entrevista e conseguiu o estágio. Chegou no jornal logo cedo e foi conhecer a área preterida. Chegando lá, encontrou uma sala repleta de computadores, máquinas e servidores. Nenhuma alma viva. Descobriu então que na verdade, quem escrevia as preces, quem escolhia vossos destinos era um programa de computador. Era aleatório.
Não era possível. Como assim? Ficou frustrada. Se trancou no banheiro e chorou. Chorou por meses até escorrer toda sua esperança. Percebeu então que tinha que deixar pra lá. Não tinha outro jeito. A verdade doía demais. Afinal, Deus era uma máquina. E o destino era totalmente aleatório.
Para superar isso tudo, decidiu que não valia a pena chorar. Dali pra frente se policiaria para não sofrer, não sorrir e principalmente não sentir porra nenhuma. Com dedicação e sorte, poderia chegar ao ponto de se transformar num computador. Sem sentimentos. Seria lindo. E só então, poderia começar a mudar seu bairro, seu mundo e tudo mais. Amém.