comercial de miojo

Publicado: 02/07/2010 por caio carmacho em demônios exteriores

cena 1: sono silêncio apatia: o homem sai do elevador trazendo consigo uma pasta preta castigada: a luz do corredor acende: busca a chave no bolso esquerdo da calça: ou busca alguma resposta? ansiedade nenhuma

cena 2: entra no apartamento e ilumina a sala tléc!: dirige-se vagarosamente à janela: observa o prédio à sua frente com cautela: ninguém flerta com ninguém a essa altura do campeonato

cena 3: liga a tevê e desperdiça duas boas horas não vendo nada: três idas ao banheiro: 10 unhas roídas

cena 4: apaga as luzes: fecha as cortinas: bebe uísque no escuro

cena 5: barulho de fechadura: hitch brinca com o seu cock: telefone tocando tocando tocan tu-tu-tu-tu: urubus sobrevoando a paisagem

cena 6: enquadramento fechado nos pés descalços da personagem dois: um autêntico índio de itu: atônito, a personagem um (ou o homem sem nome) saca de sua pasta preta de couro castigado um 38

cena 7: o autêntico índio de itu veio em missão de paz e permanece parado na porta, nu em pêlo, peladão: não alimenta apetites diretos pelo homem branco e sem nome: mas o homem sem nome não se convence com tal altruísmo e continua com a mira em riste

cena 8: o revólver dispara PÁ!: a bala resvala: close no rosto da personagem dois que exprime uma lágrima mágica e translúcida de seu semblante preto-e-branco

cena 9: não negue sua origem…: o homem branco descarrega todo o seu arsenal sobre o índio, que continua um totem imóvel: dispara seus preconceitos, medos, ceticismos::: nada

cena 10: o homem branco se pergunta: por que você não morre? eis que o índio fala: porque eu te amo:::

cena final: o homem branco se enternece e abraça o índio: pooorraah véi, você é muito foda! você é o cara! o índio: tô ligado, tô ligado! e daí, que que tem pra comer?:: o branco: porra, tá foda, só tem miojo:: o índio: beleeeza dom!:: e sentaram juntos como velhos amigos, branco e índio, debruçando suas atenções sobre a artificialidade da vida: deve ser foda ser uma galinha caipira: pode crê, pode crê:::

comentários
  1. Dalton Campos disse:

    Caio, eu sou seu fã. E sim, galinha caipira é o meu sabor favorito, caso ainda haja dúvida

  2. Dalton Campos disse:

    Eu não consigo. Tenho de ler este texto todos os dias. Isso é fantástico. Você superou tudo. Não tem mais graça escrever depois disso. Porque este texto não é meu?

  3. Continuo lendo este texto com muita frequência. É ainda tão bom quanto antes.

  4. Dalton Campos de Oliveira disse:

    Eu nunca vou esquecer esse texto. Ele é muito maravilhoso

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